... caracterizam a reacção do Partido Comunista Português à atribuição, pela academia norueguesa, do prémio nobel da paz 2010 a Liu Xiaobo.
É triste, é inacreditável, mas a reacção aconteceu mesmo...
Com esta anacrónica, insólita e absolutamente vergonhosa declaração, o PCP mostra toda a sua credibilidade: é um partido de defende corporativamente a sua ideologia deformada, anquilosada e as suas práticas totalitárias, "no matter what it costs"...
Há muito que este partido desconhece o significado das palavras liberdade, alteridade, tolerância, opinião livre e cultura democrática...
Um partido assim não merece nada
No mundo da multiculturalidade e do multilateralismo, o valor da modéstia assume uma importância sacramental. A China tem uma história milenar, uma plêiade de importantes conquistas na filosofia, na ciência, na técnica, na literatura, e não recebe lições de moral do Ocidente em matéria alguma, tal como este - e muito bem - jamais admitiria que os chineses lhe condenassem, por exemplo, a benevolência para com criminosos de sangue, taxando-a de tibieza degenerada, e fazendo apólogo da pena capital. A China tem uma especificidade cultural, histórica, sociológica, que o Nobel a Liu agride com um tenebroso etnocentrismo. Para além de, como salienta o PCP, vir na senda de um processo claríssimo de indexação do Nobel à defesa da agenda do imperialismo yankee - a nomeação de Obama há um ano atrás foi de cabo de esquadra... -, ora vertida em provocações à China e seus dirigentes. Isto para não falar de quão imbecil este «plano» se mostrará, por se consubstanciar, muito certamente, num aperto do cerco das autoridades chinesas aos dissidentes, mesmo que moderados. Um disparate táctico e um um exercício racista - o Nobel não piora, aparentemente regressa aos anos em que premiava o colonialista Rudyard Kipling...
ResponderEliminarJoão
ResponderEliminarEu sei que és uma pessoa inteligente e lúcida...
Por favor, para para pensar:
- no que se passou em Tian-an-Men, em 1989
- no que se passa continuamente no Tibete
- no que que se passa nas "salas da morte"
- no espartilho totalitário do regime comunista chinês...
Mas há alguém (de esquerda, ou direita; comunista ou não) que se possa calar perante estes crimes atrozes, da mesma lavra que outros nos Iraques, Afeganistões e etc...
Caro: não me desiludas e não me venhas com "jogos de palavras" como o ortodoxo e cego PCP!!!!
É incrível que quem se bate pelos direitos humanos, seja em que lado for, seja rotulado de "yankee" e "imperalista" só porque defende, tão só e apenas, a vida humana!!!!
Termino desta forma: a esquerda está mal habituada a ter prémios nóbeis que lutem contra o totalitarismo comunista, os valores de pseudo-defesa do proletariado e o marxismo cultural que ainda grassa em alguns (poucos, felizmente) cérebros da Academia Sueca...
Até breve
Alguém ainda se recorda da visita de S.Santidade o Dalai Lama a Portugal...? Querem mais hipocrisia...? Do lado do PCP.
ResponderEliminarComeçando por responder ao anónimo, é sobremodo interessante ver como apele a que se olhe «para o PCP» e se esqueça que Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros à época, disse que o chefe máximo do budismo do Tibete não seria recebido em S. Bento ou Belém «pelas razões conhecidas». O PCP, bem o sabemos, é uma máquina infernal que domina subterraneamente a pátria lusa, mas a tanto ainda não chega, creio eu.
ResponderEliminarIndo aos tópicos que o Gonçalo traz à colacção, muito haveria para dizer sobre Tiananmen e o Tibete. Indagar sobre qual era o estatuto do Tibete até ao início do séc. XX, quando foi anexado pelos ingleses e se decidiu que seria um «protectorado», ou quando proclamou a secessão aproveitando as dissensões civis que minaram a História chinesa entre 1911 e 1949. Crês que se a instabilidade política em Portugal degenerasse em dissídio civil e, por exemplo, o Algarve declarasse a independência - restaurada a paz não seria reintegrado no território nacional? Ainda que o teocrata que o governasse achasse o contrário? Não poderias concordar. Nem com isso, nem com o consentimento de que milhares de estudantes perecessem numa maciça greve de fome despoletada pela morte de um certo Hu Yaobang, membro do PCC caído em desgraça quando se mostrou próximo da inteligentsia pró-capitalista. Uma imensidão de jovens a deixarem-se morrer por alguém que, segundo a doutrina marxista, era um traidor - e esperavas consentimento? Sim, o uso da força foi desproporcionado, e sê-lo-ão também as penas aplicadas a determinados crimes, os actos censórios, etc. Mas quem ignora o tratamento dado aos protestos contra a guerra do Vietname, ou contra o Maio de 68, ou contra a guerra da Argélia, na democratíssima França e nos democratíssimos EUA? Nõ se trata de legitimar a acção chinesa: os regimes agem, e isto é um dado objectivo, com o fim de perviverem, e não de desaparecerem.
Termino dizendo que «a esquerda» não compete com «a direita» a ver quem ganha mais prémios de gabarito. Eu, e outros «à esquerda», criticamos quando achamos que isso se justifica. Já o fizeste em sentido contrário: só me faltava vir para aqui dizer que «a Direita» não se abstém do filistinismo intelectual e depois queixa-se. Discutamos sem estas picardias de somenos, se não te importas.
Aprecio que defendas os teus pontos de vista com toda a tua alma e também toda a racionalidade que, apesar da afectividade, também poderás evidenciar.
ResponderEliminarMas há uma coisa que te digo, bom amigo - para mim, todas as guerras, todas as perseguições, todos os conflitos que se façam em nome da "esquerda" e da "direita", os "yankees" ou dos "foices-martelos", da "imperialismo" ou do "totalitarismo marxista", da Nato ou do Pacto de Varsóvia são igualmente brutais na sua iniquidade...
A China chega a uma condição de super-potência travestida de país com "um regime, dois sistemas"... Este modelo mostra a profunda hipocrisia das lideranças chinesas desde Deng Xiao Ping, que desejam viver com o melhor do capitalismo comercial e da economia de mercado e, por outro lado, manterem um regime totalitário e opressor, à sombra do PCC, alegando que a China não aguenta um regime liberal...
E, no fundo, ignora-se o essencial: a miséria do povo chinês - que vive mal e com salários miseráveis (ganha a vida para "sobreviver"), enquanto alguns ilustres plutocratas do empresariado chinês enchem bem os seus bolsos...
A esta realidade não é alheio um certo Confucionismo cultural, que louva a autoridade e a submissão a essa autoridade... Um prato de arroz é muitas vezes o suficiente, meu caro... E sabe-lo bem!