terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Grandes Portugueses IV - D. Nuno Álvares Pereira


A escolha de hoje resulta do facto de ter ouvido nas notícias que o Beato Nuno de Santa Maria - o nosso famoso D. Nuno Álvares Pereira - será muito brevemente elevado à condição de Santo pela Igreja Católica.

Foi reconhecida uma cura que, em 1918, se deveu à invocação do "Santo" Condestável.
Mas vale a pena conhecer um pouco melhor a sua vida:

Nuno era filho do Grão-Mestre da Ordem Militar do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira e da sua esposa Iria Gonçalves. Nasceu, muito provavelmente no Mosteiro da Flor da Rosa, no Crato (Sede da Ordem do Hospital) ou em Cernache do Bonjardim, na Sertã, no ano de 1360.

O grande momento da sua vida chegou aos 23 anos quando, após a morte do Rei D. Fernando, o reino se dividiu em dois partidos distintos relativamente à sucessão: de um lado, a filha do rei defunto - Dona Beatriz; do outro, o Mestre da Ordem de Avis e filho ilegítimo de D. Pedro I - D. João (claro que havia também os filhos de Inês de Castro, mas estes eram os partidos principais).

Nun'Álvares abraça a causa da defesa do Mestre de Avis, já que estava pouco disposto a deixar o Reino caír nas mãos de João I de Castela, marido de Dona Beatriz. Para isso, foi necessário dar consequência aos vastos conhecimentos militares que adquiriu junto dos seus familiares e dos restantes membros da Ordem do Hospital.


O génio militar de Nun'Álvares garantiu-nos vitórias em diversas batalhas, durante esta crise sucessória de 1383-85:
- primeiro a Batalha dos Atoleiros (no Alentejo), em 6 de Abril de 1384, na qual Nuno foi feito "Condestável do Reino de Portugal", um título que coresspondia a Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e pelo qual ficou conhecido toda a vida

- depois a famosa Batalha de Aljubarrota, imortalizada na iluminura de Jean de Wavrin, em que Portugal conseguiu vencer uma força militar mais de três vezes superior (segundo João Gouveia Monteiro, Portugal dispunha de cerca de 6.500 homens e Castela de 31.000). Nesta batalha, segundo a interpretação de Fernão Lopes, foi usada a famosa "Táctica do Quadrado", em que o Exército Português, que conhecia bem o terreno, abriu o flanco à entrada dos espanhóis na sua formação, levando a que estes - na sua maioria cavaleiros - caíssem nas famosas "covas do lobo" cavadas pelas forças nacionais.

D. João I deve o seu trono, em grande parte, a este génio militar de Nun'Álvares. Após a vitória, o Condestável recebeu nomerosos títulos e senhorios, como agradecimento do seu papel na luta pela independência: Conde de Arraiolos, Conde de Barcelos e Conde de Ourém. Sendo um dos mais importantes senhores de terras em Portugal, Nuno Álvares decide transmitir à sua filha única Beatriz Pereira de Alvim todo o seu património.

Curioso será que esta sua filha se case com um filho natural do Rei, D. João I, com Dona Inês Pires, o Infante D. Afonso. Este casamento vai formar a mais importante casa aristocrática da História Portuguesa: a Casa de Bragança. Com vastos senhorios desde o Norte ao Sul de Portugal, o Ducado de Bragança vai constituír um "Estado dentro do Estado".
Depois da morte da sua esposa, Leonor de Alvim, em 1433, Nuno Álvares decide dedicar-se à vida religiosa, fundando o Convento do carmo, em Lisboa (hoje em ruínas depois do Terramoto de 1755).
Mas nem por isso deixa de ser um homem poderoso e respeitado pelos seus inimigos. Conta-se que D. João I de Castela o terá procurado no Convento e que o terá sondado sobre um eventual apoio a uma nova invasão castelhana. Indignado com a ultrajante insinuação de João de Castela, Nun'Álvares levantou o seu hábito e mostrou ao Rei de Castela uma imensa cota de malha e a armadura que lhe dera anos de glória ...


O seu epitáfio resume a sua vida: "Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo".

O grande Condestável faleceu, no Convento do Carmo, em 1431.
Deverá ser Santo até ao final do ano de 2009 (ver aqui).
PARA SABER MAIS:

- MONTEIRO, João Gouveia - Aljubarrota: a batalha real. Lisboa: Tribuna da História, 2003.
- RUAS, Henrique Barrilaro - A vida do Santo Condestável Dom Nuno Álvares Pereira. Coimbra: Tenacitas, 2008.

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