domingo, 1 de fevereiro de 2009

Grandes Portugueses II - D. João Peculiar


Caros amigos, trago-vos hoje uma figura que desenvolveu um papel crucial no processo do nosso reconhecimento enquanto nação independente junto da Santa Sé: D. João Peculiar, um dos mais próximos e mais sábios conselheiros de D. Afonso Henriques.

Nascido, provavelmente, na cidade de Coimbra, terá desenvolvido os seus estudos nesta cidade, tendo depois partido para Paris, onde poderá ter feito estudos superiores em Teologia.

A sua vida religiosa tem início no clero regular, tendo sido o responsável, entre outros, pela fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1132) e, provavelmente, de São Cristóvão de Lafões (1123 - carta de Couto em 1137, com intervenção de Peculiar), ambos da observância de Santo Agostinho. Em 1133, introduz a Regra de Santo Agostinho no Mosteiro de São Salvador de Grijó.

Em 1136, é eleito Bispo do Porto. Note-se que sucedeu a D. Hugo, o famoso bispo que deu foral à cidade cujo senhorio recebeu de Dona Teresa. D. Hugo era um homem próximo de D. Diego Gelmírez (na foto), o poderoso arcebispo de Santiago de Compostela, que desejava ofuscar a influência de Braga como grande metrópole peninsular.




Digamos que o Bispado do Porto foi um estágio para o "grande salto" que se seguiria: a eleição como Arcebispo "Primaz" de Braga, em 1138 (cargo que ocupa até 1175). Neste momento, D. João Peculiar é um dos mais próximos conselheiros de Afonso Henriques e o grande cérebro da Cúria Régia - o grande responsável pela política de doações terras e concessões de cartas de Couto a numerosos mosteiros.

João Peculiar é também um notável estratega político: é graças a ele que se organiza - em articulação com Gelmírez e D. Afonso VII - a Conferência de Zamora, que resulta na assinatura do Tratado que reconhece a nossa independência e, sobretudo, a longa negociação com o Papado, entre 1143 e 1179, para a obtenção do estatuto régio de Afonso Henriques (que até aí era, pelo Papa, considerado apenas como "dux").

Para lograr este objectivo, João viaja 14 vezes a Roma (as viagens eram, na altura, penosas e demasiadamente longas, era preciso "estômago) para tentar convencer o Papa Inocêncio II a garantir a protecção do jovem Estado Português. Infelizmente, morreria 4 anos antes desta meta ter sido garantida através da Bula "Manifestis Probatum", de 1179 (Papa Alexandre III).

José Mattoso define a "cooperação estratégica" entre Afonso Henrique e Peculiar do seguinte modo: "na verdade, podemos dizer, para terminar, que a conjugação das acções de Afonso Henriques com as de D. João Peculiar parece ser o mais evidente factor de coerência da política portuguesa no período inicial da sua história" (cf. Biografia de Afonso Henriques, publicada em 2006, pelo Círculo de Leitores, p. 135).

Se D. Afonso Henriques foi um grande génio militar, D. João Peculiar foi o génio político por trás de um reinado mítico.

Para saber mais: MATTOSO, José - D. Afonso Henriques. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2006, pp. 130-135.

4 comentários:

  1. Sem dúvida um grande homem, um dos muitos desconhecidos no nosso tempo...

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  2. Um grande português que ajudou a forjar esta nação junto da ONU da época: o Papado!

    Ainda por cima era um homem do Norte, carago!

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  3. Não havia necessidade de iniciar o texto com a imagem da polémica.

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  4. Caro Amigo

    Só a polémica faz avançar o conhecimento - seja para confirmar, seja para infirmar

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