quinta-feira, 19 de março de 2009

Grandes Portugueses V - João Domingos Bomtempo


João Domingos Bomtempo é um dos nomes maiores da nossa música.

Nasceu em Lisboa em 1775 (2 anos antes da morte de D. José e da queda de Pombal) e, desde muito cedo, a sua vida liga-se, umbilicalmente, ao mundo da música. O seu pai era oboísta na corte (de D. José I) e foi o seu primeiro mestre. João Domingos bebeu também muitos ensinamentos da influência musical italianizante que perdurava, em Portugal, desde o reinado de D. João V.

Bomtempo decide partir com 26 anos para Paris, onde procura enriquecer-se e aprender mais. É na cidade luz que encontra a figura tutelar de Filinto Elísio - um dos poetas mais marcantes da corrente neo-classicista. Bomtempo acaba por ver a sua obra (re)conhecida e publicados os seus primeiros trabalhos pelas casas musicais Leduc e Pleyel.

Com o agravar da situação em França, devido às Guerras Napoleónicas, Bomtempo procura refúgio em Londres (1810). Aqui será apoiado pelo embaixador português, D. Domingos de Sousa Coutinho e terá oportunidade de compor algumas das suas obras mais importantes:

- Hino Lusitano. Op. 10 (em homenagem à vitória luso-britânica na Guerra Peninsular)
- Primeira Grande Sinfonia. Op. 11
- Uma Sonata Fácil para Piano. Op. 13

Com a situação da Europa mais estabilizada depois do Congresso de Viena, Bomtempo regressa a Portugal (comemorando o seu regresso com a composição da cantata "A Paz da Europa", Op. 17). Entre 1816 e 1818, em função da situação política e social, a sua vida decorrer entre Lisboa e Paris.


Em 1817, por ordem de D. João VI, dirige as exéquias oficiais em torno da morte de Dona Maria I. Será em 1818 - talvez na sequência da morte da Rainha - que vai compor a sua obra prima: o "Requiem" (Op. 23), que dedicou à memória de Camões.

Após a morte de D. João, Bomtempo vê-se novamente forçado a deixar o país, tendo tido asilo político da Embaixada de Portugal na Rússia, enquanto durou a convulsão do Miguelismo.

Bomtempo regressará definitivamente a Portugal com o triunfo do regime constitucional, após 1834. Neste período, colaborará com Almeida Garrett na organização do Conservatório Nacional, sendo-lhe dada a responsabilidade directiva da Escola de Música. Foi também nomeado chefe da Orquestra da Corte e Professor de Piano.

Depois de todo este currículo e de termos oportunidade de ouvir o sublime e magnífico requiem que poderão escutar aqui (I parte - Kyrie; depois poderão procurar no "youtube", sucessivamente, as partes II, III, IV, V e VI)), não percebo comentários como este:

"A música de Bomtempo, apesar de revestida de inegável qualidade e de ter alargado o panorama musical português da época, não é vanguardista sendo mesmo menos moderna que a de Haydn e Mozart e muito menos do que a de Beethoven (seu contemporâneo e compositor de transição clássico-romântico)" (Fonte: Wikipedia).

Bomtempo pode não ser arrojado e vanguardista, mas tem uma capacidade inegável de composição e este requiem é muito bom. Termino com uma frase da mesma fonte que me parece inteiramente justa:

"Por último é importante referir que João Domingos Bomtempo foi sempre defensor dos valores portugueses e na sua obra assumem posição de relevo os valores da liberdade individual e da soberania da nação portuguesa" (Fonte: Wikipedia).

Ao grande Bomtempo, a minha homenagem: como grande músico e, também, como enorme português que sempre defendeu esta pátria periférica ... Portugal tem uma tendência visceral para esquecer os seus mais dilectos filhos


2 comentários:

  1. Boa música, de facto. No entanto, talvez na minha ignorância, não posso deixar de reparar que este aparenta possuir uma grande ligação á igreja.

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  2. Sim, sem dúvida

    Música coral polifónica e também sinfónica, com grande ligação ao imaginário religioso!~

    A Música Sacra é das músicas mais sublimes que há no mundo e mais ainda para quem tem fé ... Sente mais

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