sábado, 28 de março de 2009

A fraca comemoração faz fraca a forte gente



A propósito do Centenário da República Portuguesa temos assistido, paulatinamente, à montagem de um circo comemorativo (julgo que sem precedentes numa cerimónia de pendor histórico, em Portugal) que apenas se explique pelo fetiche "republicanista" de uma certa ala socialista de forte pendor jacobino ...

Não consigo compreender como é que é possível comemorar (faustosamente, ao estilo "monárquico" que tantos dizem criticar!) um regime político que só nos trouxe desgraças:
  • Desde logo, a 1ª República: o período de menor desenvolvimento para o país e de recessão global da nossa economia (segundo o Prof. Medina Carreira na entrevista a Mário Crespo)
  • O Estado Novo (para quem diz que República = Democracia, recordo-lhes apenas os 40 anos de Estado Novo)
  • O PREC e o Gonçalvismo
  • Os frágeis anos (80) em que mendigamos as migalhas do FMI

De todos estes 100 anos, apesar de tudo, os momentos melhores foram aqueles em que mais estivemos perto de uma liderança mais carismática e de homens SUPERIORES que tanta falta hoje nos fazem:

  • Sidónio Pais e o seu presidencialismo "monárquico"
  • A marcha sobre Lisboa do Marechal Gomes de Costa que foi essencial para "regenerar" o país com uma economia totalmente arrasada e uma situação social gravíssima
  • Com Salazar tivemos alguns grandes estadistas dos quais destaco, pela positiva: Craveiro Lopes, Adriano Moreira, Baltazar Rebelo de Sousa, Silva Cunha, Marcello Caetano (apesar da "primavera" que nunca deixou de ser inverno ...)- Na oposição temos que destacar (para além de Soares e Cunhal - que, estando nos antípodas da sua posição política, considero um homem de coragem) o General Norton de Matos, Vitorino de Magalhães Godinho, Gustavo Soromenho (Oposição "Socialista"), Carlos Brito, Henrique Barrilaro Ruas e Gonçalo Ribeiro Telles (Oposição Monárquica)
  • Com o triunfo da Revolução de Abril julgo que nos cumpre destacar a excepcional figura, bem portuguesa, de José Baptista Pinheiro de Azevedo e homens da craveira de Spínola, Melo Antunes, Palma Carlos, Sá Carneiro, Mota Pinto, Salgado Zenha
  • Dos 80 para cá, julgo que há 1 figura que é "incontornável": Cavaco Silva

E não vejo muito melhores frutos da República


P.S: O Centenário do Regicídio foi o ano passado. Como se sabe, um Chefe de Estado caiu valorosamente às mãos de 2 brutais e ignorantes assassinos. Não vi ser tanto dinheiro dispendido, tanta preocupação institucional e tanto "burburinho", à excepção de alguns comentários bem infelizes de um deputado da Nação sobre as honras militares que o Sr. Presidente da República entendeu dar à cerimónia ...
Por que será ... ?


2 comentários:

  1. Ó Gonçalo Marques, tenha paciência mas isso é uma tolice acabada. Não sei se conhece a obra «História Económica do Brasil» de Caio Prado Júnior: nela se sustenta, a dado passo, que a condição económica dos negros brasileiros era bastante melhor durante a escravatura do que nos primeiros anos do séc. XX, em razão da velocidade e profundidade com que se processou a proletarização da força de trabalho no país irmão. Admitiria o Sr. que os tais negros prefeririam regressar à sanzala e ao chicote mas ter mais broa para roer, do que ser livres e iguais (mesmo que do ponto de vista estritamente teórico) aos restantes brasileiros? Pelo amor dos Céus!
    É que toda a sua argumentação, tirando o que se refere ao Estado Novo, é feita da depreciação da República em sendo um tempo de degeneração económica nacional. A Primeira República era má porque houve recessão, a Terceira República é tão má ou pior porque durante uns anos vivemos à custa do FMI, etc. E vai daí, urde toda uma teorização sobre a inutilidade de celebrar a República. Mas ocorrer-lhe-á que a República significa a separação entre Igreja e Estado, a eleição da Chefia do Estado, o fim do sufrágio censitário, dos Pares do Reino, das derivas cesaristas, e a instituição pela primeira vez de um regime assente na vontade popular e não numa putativa (e a todos os títulos injustificável) aliança entre a Soberania Régia e a Soberania da Nação? Tenha algum senso, e entenda que enquanto princípio a República é sim de se comemorar, é sim de se louvar e consolidar. A República não são os republicanos, como a Democracia não é o Sócrates nem o Mário Soares: são valores, não são redutíveis a pessoas e à sua acção. A 5 de Outubro - e a 25 de Abril - são os valores que se comemoram, não a acção dos que os implantaram. Outrossim, quando alguém falasse em celebrar os Descobrimentos teríamos de o ouvir dizer que tal era absurdo porque tudo isso foi puro expansionismo, colonialismo, esclavagismo, e belicismo...

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  2. Ora viva JV

    Deixe-me resumir o seu comentário: uma imensa confusão entre a teoria política e a prática governativa, por um lado e, por outro lado, a confusão entre a realidade histórica e a realidade que o JV "queria que tivesse sido".

    Mas vamos por pontos (apenas para responder ao que me parece mais flagrante):
    1 - "Admitiria o Sr. que os tais negros prefeririam regressar à sanzala e ao chicote mas ter mais broa para roer, do que ser livres e iguais (mesmo que do ponto de vista estritamente teórico) aos restantes brasileiros? Pelo amor dos Céus!"

    Não admito nada porque não li a obra de Caio Prado Júnior quando fiz História do Brasil e, portanto, não posso fazer, em consciência, a "Crítica da Fonte". Agora o que lhe posso dizer é que, em momentos-chave da nossa vida colectiva, há povos que preferem (não sei se bem, ou mal) a sua subsistência económica (mais agora!) do que certos alardes teóricos chamados "direitos" que tantas e tantas vezes não são reais ...

    2 - "É que toda a sua argumentação, tirando o que se refere ao Estado Novo, é feita da depreciação da República em sendo um tempo de degeneração económica nacional."

    E foi ... 8 séculos de monarquia fizeram inconparavelmente melhor que 1 só de República (para não falar do que nesse século de bom se destruiu)

    3 - "A Primeira República era má porque houve recessão, a Terceira República é tão má ou pior porque durante uns anos vivemos à custa do FMI, etc."

    Claro ... Está a ver onde quero chegar ...

    4 - "Mas ocorrer-lhe-á que a República significa a separação entre Igreja e Estado, a eleição da Chefia do Estado, o fim do sufrágio censitário, dos Pares do Reino, das derivas cesaristas, e a instituição pela primeira vez de um regime assente na vontade popular e não numa putativa (e a todos os títulos injustificável) aliança entre a Soberania Régia e a Soberania da Nação?"

    Tive que respirar antes de ler a sua truculenta a reverberante prosa republicana-socoalista e laica. Mas que acutilante, meu caro! Nunca se viu tanta confusão entre Igreja e Estado como na III República. E sabe porquê? Porque o Estado quer substituí a Igreja e usa, na sua voragem controladora, muitas das ferramentas que a Igreja medieva, por exemplo, usava: como um fisco inquisitorial, desde logo ...
    Os Pares do Reino tinham na sua composição parlamentares e homens públicos DISTINTOS, BEM PREPARADOS como, p. ex, o Duque de Palmela, o Marquês de Sá da Bandeira, o Duque da Terceira, Passos Manuel, etc ... Quão distinto é o panorama nos actuais parlamentares de trazer por casa ...
    A vontade popular de que fala já se tinha manifestado na composição das assembleias no período monárquico e pasme-se: a base eleitoral era muito maior na fase final da Monarquia do que o foi durante a I República. E sabe porquê: porque os Republicanos só ganhavam nas grandes cidades: Lisboa e Porto! Mais nada! O esmagador eleitorado rural e algum médio-urbano era monárquico e era preciso aniquilar essa força reactiva ...
    A Soberna Régia representava distintamente a nação, já que o monarca nunca o é por imposição de partidos mas por força da legitimidade que lhe advém da força do tempo! E o tempo é a força mais poderosa e sábia

    5 - "Tenha algum senso, e entenda que enquanto princípio a República é sim de se comemorar, é sim de se louvar e consolidar."

    NÃO! Não meu caro! Comemore você a sua não-comemoração e que ela lhe saiba muito bem! Eu só comemoro aquilo que vale a pena ser comemorado, numa perspectiva de custo-benefício para a Pátria! E a República só nos trouxe empobrecimento, resignação e miséria ...

    6 - "A República não são os republicanos, como a Democracia não é o Sócrates nem o Mário Soares"

    Tem razão! Concordo! Estes nem sequer são republicanos:
    - Soares tem uma concepção monárquica do poder na transmissão hereditária dos seus cargos e do seu "testamento político"
    - Sócrates é um tiranete de trazer por casa

    O meu post baseia-se na interpretação dos factos históricos e na análise custo-benefício da República. Além do mais, baseia-se numa revolta interior: os 10 Milhões de Euros que vão ser gastos em comemorar uma desgraça!

    Boa noite

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