Lamento discordar de ti, Gonçalo, mas o problema do PSD não é o cavaquismo: é o Sócrates. A política do PM agora reeleito em nada difere, quanto aos fundamentos, daquela que o teu partido tentou implementar ao tempo dos Governos de Barroso e Santana. Ora, na inexistência de uma divergência programática, ideológica, entre o PSD e o PS (haverá discordância quanto a medidas concretas, decerto, mas não quanto aos fundamentos da política a seguir), o máximo que os laranjas podem fazer é tentar mostrar que conseguem implementar as medidas do PS em termos mais aceitáveis para a população portuguesa. Ferreira Leite tentou dar a entender que o faria com maior preparo, maior seriedade, maior respeito pelas liberdades e garantias dos cidadãos do que Sócrates. Foi táctica que não resultou, até porque, como disse e muito bem Daniel Oliveira, o discurso das liberdades cívicas «não cola» com a ex-ministra, e o discurso da seriedade e do preparo foram dinamitados pelo caso António Preto e pela inarticulação do discurso de Ferreira Leite. O PSD precisa de saber vender-se como um produto melhor do que o PS de outra forma. Assim não vai lá.
Estou de acordo contigo que o PS se travestiu - virou à direita - e que roubou algumas das bandeiras programáticas do PSD (sobretudo do Barrosismo).
Mas isso não explica totalmente - acredita - este deserto que tem sido o Partido Social Democrata na última década e meia (com excepção de 2 anos e meio). O facto de todos os 6 líderes que sucederam a Cavaco serem membros (ou próximos) dos seus governos diz tudo - o PSD "cavaquizou-se" excessivamente: muito mais que o que seria desejável e razoável atendendo ao mal que Cavaco fez ao PSD ...
- Fernando Nogueira - Marcelo Rebelo de Sousa - Durão Barroso - Pedro Santana Lopes - Luís Filipe Menezes - Manuela Ferreira Leite
O PSD precisa de uma mudança geracional ... de "sangue novo" ... de alguém que seja de uma geração "não-cavaquista" ou que não tenha estado ligada (até por razões de idade) ao "cavaquistão".
Basta de um período que teve a sua importância, mas que deve morrer politicamente!
Divergências programáticas que devem ser exploradas (pelo PSD) - Menos Estado - Mais Sociedade Civil - Mais Liberdade Económica - Parcerias Público-Privadas - Segurança Social + Sector Privado - SNS + Misericórdias + IPSS's - Postura responsável no controlo das contas públicas (sobretudo défice externo) - Grandes Obras Públicas - Mais apoio aos Professores
e tantas, tantas outras diferenças
P.S - Quem me dera que Paulo Rangel fosse o próximo Presidente do PSD
As seis primeiras propostas que defendes seriam fácil e liminarmente desmanteladas pela argumentação de um líder socialista com a acusação de serem «um atentado ao Estado social». E chocavam com a amorfia tendencial da dita sociedade civil - o Estado é historicamente encarado, entre nós, como o magno coordenador do povo, e de caminho como principal responsável por assegurar a satisfação dos seus direitos. Apostar no seu desaparecimento, ou sequer no seu enfraquecimento, causaria um pânico nacional que o PS saberia aproveitar. O processo de que falas há-de fazer-se, por ser da mecânica das coisas na sociedade em que vivemos: mas com o cinismo cretino com que Sócrates o vai levando a cabo, pela calada. Os três últimos pontos, além de poderem ser relativamente casuísticos, são inexequíveis cada um pelo seu motivo: o primeiro, porque na impossibilidade de emagrecer o Estado de um só golpe é preciso manter uma despesa elevada; o segundo, porque o financiamento das grandes empresas em Portugal, sobretudo do poderoso lóbi da construção civil (vital para empregar a mão-de-obra maioritariamente não-qualificada e para o poder local), é de há pelo menos 20 anos a esta parte feito pela canalização de verbas públicas para a conta dos magnates; e quanto aos professores, são há anos e anos enxovalhados pela cultura juvenil dada a sua condição de figuras de autoridade: o PSD tinha um trabalho de Hércules pela frente a combater algo tão enraizado. No fundo, o PSD está agora como o PS quando Zita Seabra saiu do PCP: é preciso esperar que Sócrates «faça asneiras a sério» para o derrotar. Ou de esperar que o Bloco o consiga erodir o suficiente para que o PSD fique por cima.
Independentemente das (muitas) divergências político-ideológicas que nos separam - e que seria redundandante, de todo em todo, repisar e rebater aqui - julgo que o essencial é isto: Portugal não pode continuar a querer uma democracia ocidental "à europeia", com uma economia de mercado (tendencialmente liberal e "livre cambista") e ter um Estado enorme, asfixiante e anquilosado que esmaga a iniciativa criativa dos cidadãos e paralisa a mudança (necessária) de paradigma no país ...
O Estado tem demasiadas competências e, se não as descentralizar por outros organismos da administração desconcentrada ou, mesmo, pelos privados, acabará por levar o país à ruína, porque mais de 50% da carga fiscal e da riqueza nacional são sugadas tiranicamente pelo Estado! Isto tem tanto de inaudito, quanto de assustador!
Se não saírmos deste paradigma em que se procurou casar dois sistemas antagónicos (um colectivista e o outro mais liberal), nunca mais o país sai da "cepa torta".
O PSD está num momento mau, é verdade ... Mas tenho esperança - e firme convicção, até pela história quase "marxista" do partido nessa matéria - que, qual Fénix, possa renascer brevemente das cinzas, com ou sem Manuela Ferreira Leite ...
Gonçalo, eu não defendi posição nenhuma. Só antecipei o argumentário que qualquer líder do PS utilizaria se o PSD defendesse o que dizes. Se nestas eleições já foi possível causar o burburinho sabido jogando com a omissão do programa de Ferreira Leite relativamente ao SNS, e com a sua infeliz frase sobre «rasgar» propostas de apoio social, imagine-se se propunha tudo o que dizes em letra de forma! Foi por aí que comentei, até porque, como também sabes, o que defendo é um pouco mais do que o Estado social (e por aqui me fico). No entanto, essa entregue à criatividade dos privados há-de fazer-se, lentamente, mas de forma inexorável. É, aliás, assim mesmo que «a coisa» funciona. Concordo, contudo, com a descentralização do Estado, a aproximação do poder dos cidadãos e o aumento do poder destes. O PSD poderia usar essa estratégiade forma muito frutuosa, jogando na antecipação relativamente a Sócrates, que ainda não disse uma palavra sobre regionalização desde 2005. Sei que é uma questão quente no teu partido, mas pode ser muito rendosa se bem aproveitada.
Como sabes o partido tem insignees regionalistas: Mendes Bota ("o vice-rei do Algarve", como alguns lhe chamam), Macário Correia, Luís Filipe Menezes, Marco António Costa (Presidente da Distrital do Porto), entre muitos outros ...
Mais que regionalização, eu diria descentralização. E de que forma?
Reforçando as competências das CCDR's e das Autarquias (Câmaras e Juntas), procedendo a uma efectiva reforma administrativa do território.
Desta forma não se criariuam mais tachos, mas tirar-se-ia o máximo rendimento dos cargos e atribuições já existentes.
Pode ser uma forma de reduzir a asfixia - e pequenez - em que o país está imerso.
Lamento discordar de ti, Gonçalo, mas o problema do PSD não é o cavaquismo: é o Sócrates. A política do PM agora reeleito em nada difere, quanto aos fundamentos, daquela que o teu partido tentou implementar ao tempo dos Governos de Barroso e Santana. Ora, na inexistência de uma divergência programática, ideológica, entre o PSD e o PS (haverá discordância quanto a medidas concretas, decerto, mas não quanto aos fundamentos da política a seguir), o máximo que os laranjas podem fazer é tentar mostrar que conseguem implementar as medidas do PS em termos mais aceitáveis para a população portuguesa. Ferreira Leite tentou dar a entender que o faria com maior preparo, maior seriedade, maior respeito pelas liberdades e garantias dos cidadãos do que Sócrates. Foi táctica que não resultou, até porque, como disse e muito bem Daniel Oliveira, o discurso das liberdades cívicas «não cola» com a ex-ministra, e o discurso da seriedade e do preparo foram dinamitados pelo caso António Preto e pela inarticulação do discurso de Ferreira Leite. O PSD precisa de saber vender-se como um produto melhor do que o PS de outra forma. Assim não vai lá.
ResponderEliminarCaro João, boa tarde
ResponderEliminarEstou de acordo contigo que o PS se travestiu - virou à direita - e que roubou algumas das bandeiras programáticas do PSD (sobretudo do Barrosismo).
Mas isso não explica totalmente - acredita - este deserto que tem sido o Partido Social Democrata na última década e meia (com excepção de 2 anos e meio). O facto de todos os 6 líderes que sucederam a Cavaco serem membros (ou próximos) dos seus governos diz tudo - o PSD "cavaquizou-se" excessivamente: muito mais que o que seria desejável e razoável atendendo ao mal que Cavaco fez ao PSD ...
- Fernando Nogueira
- Marcelo Rebelo de Sousa
- Durão Barroso
- Pedro Santana Lopes
- Luís Filipe Menezes
- Manuela Ferreira Leite
O PSD precisa de uma mudança geracional ... de "sangue novo" ... de alguém que seja de uma geração "não-cavaquista" ou que não tenha estado ligada (até por razões de idade) ao "cavaquistão".
Basta de um período que teve a sua importância, mas que deve morrer politicamente!
Divergências programáticas que devem ser exploradas (pelo PSD)
- Menos Estado
- Mais Sociedade Civil
- Mais Liberdade Económica
- Parcerias Público-Privadas
- Segurança Social + Sector Privado
- SNS + Misericórdias + IPSS's
- Postura responsável no controlo das contas públicas (sobretudo défice externo)
- Grandes Obras Públicas
- Mais apoio aos Professores
e tantas, tantas outras diferenças
P.S - Quem me dera que Paulo Rangel fosse o próximo Presidente do PSD
Um grande abraço
As seis primeiras propostas que defendes seriam fácil e liminarmente desmanteladas pela argumentação de um líder socialista com a acusação de serem «um atentado ao Estado social». E chocavam com a amorfia tendencial da dita sociedade civil - o Estado é historicamente encarado, entre nós, como o magno coordenador do povo, e de caminho como principal responsável por assegurar a satisfação dos seus direitos. Apostar no seu desaparecimento, ou sequer no seu enfraquecimento, causaria um pânico nacional que o PS saberia aproveitar. O processo de que falas há-de fazer-se, por ser da mecânica das coisas na sociedade em que vivemos: mas com o cinismo cretino com que Sócrates o vai levando a cabo, pela calada.
ResponderEliminarOs três últimos pontos, além de poderem ser relativamente casuísticos, são inexequíveis cada um pelo seu motivo: o primeiro, porque na impossibilidade de emagrecer o Estado de um só golpe é preciso manter uma despesa elevada; o segundo, porque o financiamento das grandes empresas em Portugal, sobretudo do poderoso lóbi da construção civil (vital para empregar a mão-de-obra maioritariamente não-qualificada e para o poder local), é de há pelo menos 20 anos a esta parte feito pela canalização de verbas públicas para a conta dos magnates; e quanto aos professores, são há anos e anos enxovalhados pela cultura juvenil dada a sua condição de figuras de autoridade: o PSD tinha um trabalho de Hércules pela frente a combater algo tão enraizado.
No fundo, o PSD está agora como o PS quando Zita Seabra saiu do PCP: é preciso esperar que Sócrates «faça asneiras a sério» para o derrotar. Ou de esperar que o Bloco o consiga erodir o suficiente para que o PSD fique por cima.
Caríssimo João
ResponderEliminarIndependentemente das (muitas) divergências político-ideológicas que nos separam - e que seria redundandante, de todo em todo, repisar e rebater aqui - julgo que o essencial é isto: Portugal não pode continuar a querer uma democracia ocidental "à europeia", com uma economia de mercado (tendencialmente liberal e "livre cambista") e ter um Estado enorme, asfixiante e anquilosado que esmaga a iniciativa criativa dos cidadãos e paralisa a mudança (necessária) de paradigma no país ...
O Estado tem demasiadas competências e, se não as descentralizar por outros organismos da administração desconcentrada ou, mesmo, pelos privados, acabará por levar o país à ruína, porque mais de 50% da carga fiscal e da riqueza nacional são sugadas tiranicamente pelo Estado! Isto tem tanto de inaudito, quanto de assustador!
Se não saírmos deste paradigma em que se procurou casar dois sistemas antagónicos (um colectivista e o outro mais liberal), nunca mais o país sai da "cepa torta".
O PSD está num momento mau, é verdade ...
Mas tenho esperança - e firme convicção, até pela história quase "marxista" do partido nessa matéria - que, qual Fénix, possa renascer brevemente das cinzas, com ou sem Manuela Ferreira Leite ...
Um abraço
Gonçalo, eu não defendi posição nenhuma. Só antecipei o argumentário que qualquer líder do PS utilizaria se o PSD defendesse o que dizes. Se nestas eleições já foi possível causar o burburinho sabido jogando com a omissão do programa de Ferreira Leite relativamente ao SNS, e com a sua infeliz frase sobre «rasgar» propostas de apoio social, imagine-se se propunha tudo o que dizes em letra de forma! Foi por aí que comentei, até porque, como também sabes, o que defendo é um pouco mais do que o Estado social (e por aqui me fico). No entanto, essa entregue à criatividade dos privados há-de fazer-se, lentamente, mas de forma inexorável. É, aliás, assim mesmo que «a coisa» funciona.
ResponderEliminarConcordo, contudo, com a descentralização do Estado, a aproximação do poder dos cidadãos e o aumento do poder destes. O PSD poderia usar essa estratégiade forma muito frutuosa, jogando na antecipação relativamente a Sócrates, que ainda não disse uma palavra sobre regionalização desde 2005. Sei que é uma questão quente no teu partido, mas pode ser muito rendosa se bem aproveitada.
Sem dúvida, caro João, sem dúvida ...
ResponderEliminarComo sabes o partido tem insignees regionalistas: Mendes Bota ("o vice-rei do Algarve", como alguns lhe chamam), Macário Correia, Luís Filipe Menezes, Marco António Costa (Presidente da Distrital do Porto), entre muitos outros ...
Mais que regionalização, eu diria descentralização. E de que forma?
Reforçando as competências das CCDR's e das Autarquias (Câmaras e Juntas), procedendo a uma efectiva reforma administrativa do território.
Desta forma não se criariuam mais tachos, mas tirar-se-ia o máximo rendimento dos cargos e atribuições já existentes.
Pode ser uma forma de reduzir a asfixia - e pequenez - em que o país está imerso.
Um abraço