Começo com uma figura que, desde logo, não é portuguesa: nasceu na Panónia, na Hungria, mas desde muito cedo veio para um território que hoje faz parte de Portugal, mas que na altura se chamava Reino dos Suevos, o povo bárbaro (germânico) que ocupou o território que é hoje o Norte de Portugal após a queda do Império Romano. Estudou Teologia e Grego no Oriente.
Martinho viveu no século VI d.c e a visita ao túmulo do seu homónimo Martinho de Tours (o homem em honra do qual hoje se comem castanhas e se conta a história da capa dividida ao meio) marcou-o bastante. Fixou-se nos arrabaldes de Bracara Augusta, na "villa" de Dume, onde fundou um Mosteiro. Será feito Abade deste Mosteiro e, também, Bispo-Abade (algo que acontecia no monaquismo de influência irlandesa: veja-se o caso de Mailoc e da sua diocese da Britónia e também São Patrício na Irlanda).
Mais tarde. Martinho seria feito Arcebispo de Braga, tendo desempenhado um papel fundamental na evangelização do povo suevo, que praticava um culto "herético" aos olhos da Igreja Romana - o Arianismo. Martinho foi decisivo na sua conversão ao catolicismo, tendo a metróple bracarense crescido sob o signo do seu episcopado. Este foi o seu grande combate junto dos seus colegas bispos no Concílio de Braga de 563.
Das suas obras mais marcantes destacam-se "De correctione rusticorum" (ou "da civilização" dos rústicos), "Formula vitae honestae" (Fórmula da vida honesta) e os "Capitula Martinae" (normas capitulares que produziu enquanto Arcebispo de Braga). Foi Martinho de Dume que criou o nosso actual calendário diário, ao substituír os dias da semana apelidados segundo os deuses romanos e os elementos da natureza (p. ex: Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies), para os substituír por terminologia eclesiástica ligada aos trabalhos agrícolas (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies).
Para saber mais:
- SOARES, Luís Ribeiro - A linhagem cultural de S. Martinho de Dume. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1997.
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Dume (excelente artigo, com rigor histórico e sucinto).
Desde já gostaria de saudar a iniciativa de colocar na "ribalta" personagens históricas associadas com o território nacional.
ResponderEliminarA escolha de S. Martinho de Dume é do meu inteiro agrado e acredito que é uma personagem que merece um maior destaque e quiça alguma admiração.
Não deve cair no esquecimento a sua obra, o facto de ter chegado até aos nossos dias o conhecimento da mesma é, de per si, um sinal claro da sua importância. Não só para a época mas também para as gerações que se seguirão.
Na FLUP há quem preste atenção a este grande pensador.
Caro Amigo e Colega
ResponderEliminarDeixa-me, antes de mais, saudar a tua visita a este espaço que se honra muito em ter-te cá!
Concordo em absoluto com o que dizes - Martinho percebeu que era necessária uma "uniformização cultural", que evitasse manifestações anacrónicas, o que nos faz pensar que percebeu o evoluír dos tempos, quer na cultura europeia, quer na liturgia e na prática teológica da Igreja.
A sua contribuição é fundamental para a afirmação da Diocese de Braga e da sua dignidade metropolítica na península, enquanto grande centro religioso e político.
Obrigado pela tua atenção e amizade ao que por aqui vamos fazendo
Muito bom!! PARABENS!! finalmente um espaço na internet despretencioso criado pela nova geração de Estudiosos , Investigadores da grande disciplina e pensamento humano a HISTÓRIA ...enfim o que define o Homem se nao a sua História
ResponderEliminarContinuação de bom trabalho e obrigado pela referência pessoal no blog Nucleo AP esperamos encontrar em mais daqueles eventos os congressos !! lol
Caro Filipe
ResponderEliminarObrigado pela tua força e pelo teu apoio a este nosso espaço.
Procuramos olhar para trás, sempre com o objectivo de compreender a forma de ser e de pensar desta nação quase milenar.
Contamos com a tua presença assídua e o teu comentário sempre que possas e queiras.
Um grande abraço muito amigo