domingo, 4 de janeiro de 2009

O cancro da corrupção

Na sequência do meu post de ontem sobre "a degradação da nossa democracia", continuo na mesma linha de pensamento e falo-vos hoje sobre a corrupção nas altas esferas ...

Numa interessante entrevista na edição de 16 de Dezembro do Jornal "O Diabo", o militante socialista Henrique Neto considerava a corrupção como "o maior cancro que o sistema não quer combater". Julgo que uma parte importante dos nossos políticos (de todos os quadrantes, uns mais, outros menos) - ao contrário do que possamos pensar - não está minimamente interessada em resolver esta verdadeira "instituição nacional", já que, com o desinteresse da população em geral pela política, conseguem, mais facilmente executar as suas manobras estratégicas como o controlo de bancos, de grandes empresas e da comunicação social ...

Recordo apenas que, nestes últimos anos, assistimos a uma dança de cadeiras nas direcções-gerais do Estado (um dos nossos grandes problemas, na minha opinião, que Henrique Neto também corrobora na mesma entrevista) e nas grandes empresas públicas, ora com PS's, ora com PSD's, ora com CDS's. Creio que são casos demais para se tratarem (todos) de coinciências ...

Vejamos o caso de Carlos Santos Ferreira, que troca a presidência do maior banco público - a Caixa Geral de Depósitos (CGD) - pela liderança executiva (numa verdadeira "opa informal" do Estado, não digam que não ...) do maior banco privado português: o Millenium BCP (levando com ele o seu "braço direito" no marketing e informação da Caixa, o nosso bem conhecido Armando Vara - claramente escolhido pela sua larga e vasta experiência na área do "marketing", claro). Mas não é tudo ... Lembram-se do homem que dizia que "quem se mete com o PS leva ..." - Jorge Coelho: é hoje o líder da Mota-Engil, uma das maiores empresas de construção civil do espaço ibérico ... E Fernando Gomes? O ex-edil portuense - muito conhecido pela sua experiência no trabalho com petróleos (talvez por ser abastecedor de automóveis ... quem sabe?) - é nomeado administrador da GALP (empresa independente, pois claro ...)

Recordo igualmente o escandaloso caso Vítor Constâncio - o homem que falhou, sucessivamente, enquanto responsável pela regulação do sector bancário nos casos BPN e BPP e que teve a
distintíssima lata de dizer que estava a ser "politicamente perseguido" ... Claro, uma perseguição deve ter sim na sua conta bancária, perseguida (e precedida) pela sua reputação de ser o terceiro governador de Banco Central mais bem pago do mundo! Tendo apenas concorrência do líder do Banco Central de Hong Kong e de Itália - num país que, claro, pode dar-se ao luxo de viver à tripa forra e pagar lautos vencimentos a estes senhores ... Que vergonha! Que nojo!

Mas não se pense que apenas do lado socialista se passam estas "negociatas" ... Concentremos agora a nossa atenção no campo social democrata: lembram-se dessa eminência parda, qual comentador de ocasião, que é o Engenheiro Mira Amaral? Lembram-se que no período dos governos PSD-CDS (grosso modo 2002-2004, com um brevíssimo interlúdio em 2005) este homem era o líder da Caixa Geral de Depósitos? Pois na sua saída do cargo teve o privilégio - não nos esqueçamos que esteve a servir a pátria em altos serviços, claro ... - de saír com uma choruda reforma (que acumulará, decerto, pelo menos em parte, com as suas anteriores funções de governante e outras prebendas ...) que acumula com cargos no sector privado que lhe foram (a ele como a muitos) proporcionados, sobretudo, pelo seu cartão partidário ... O mesmo aconteceu - no caso da CGD - com Vítor Cruz, Celeste Cardona ... São as chamadas "reconversões" políticas das empresas públicas

Mas, afinal, prezados amigos e concidadãos, nada disto nos deve surpreender: grande parte destes nomes de que vos falei sentaram "o seu rabinho" no Parlamento, onde aprovaram leis que agora lhes permitem esta impunidade e este desplante ... A Política deixou de ser um serviço pela "polis" e passou a ser um serviço apenas de alguns

A esses senhores só lhes posso dizer "sit tibi terra levis" ...

2 comentários:

  1. Eu diria 'sit vobis terra levis', para não corromper também o latim...

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  2. Obrigado caríssimo, pela correcção latina ... Sei que no plural deveria ser "vobis", já que se trata "deles" ou de "vocês" ... Se bem que isto pode ser visto na perspectiva individual de cada político e daí o "tibi" - "que a terra te seja leve" ... Não estaria mal, também e, neste caso, já não seria corrupção

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