Carta de D. Pedro V ao Marechal Saldanha (Presidente do Conselho de Ministros)
Ao ler a frase que encima este comentário, o estimado leitor poderá pensar - presumo eu que com este tipo de formulação: "bem, já no tempo de D. Pedro V havia deputados preguiçosos, ministros pachorrentos habituados ao clientelismo e líderes políticos acomodados à voragem caciqueira ..."
A minha resposta a esta vossa (nossa) pergunta/interrogação/perplexidade é: SIM! Este fenómeno é secular (quiçá milenar ...) na sociedade portuguesa. O compadrio, o seguidismo, o "yes menismo" e a troca de favores são uma constante em Portugal.
O que fazer para mudar este cenário que se arrasta, penosamente, a ponto de pôr em causa os fundamentos do nosso sistema político? Temos que "reinventar" o modo de fazer política em Portugal: quando chegamos ao ponto de ver "exilar-se" um homem que preparava um projecto-lei para pôr cobro a este flagelo, devemos todos pensar que há uma aceitação tácita - por parte de todos os partidos com representação parlamentar (particularmente do "bloco central") - deste tipo de atitudes.
Como "reinventar" a política em Portugal? Desde logo, mudando todos os interlocutores actuais - deputados, ministros, altos responsáveis da "cúpula" do Estado e substituí-los por "gente virgem" com formação humana de qualidade! Por outro lado, os partidos têm que ser espaços de liberdade e não prisões ideológicas de longa duração - têm que produzir pensamento (e transformá-lo em acção), criar novas plataformas de debate e não punir aqueles que - em consciência - se afastam da "disciplina" partidária.
Comentário enviado por mail pela Professora Doutora Maria Antonieta Cruz, do Departamento de História da FLUP (ontem à tarde)
ResponderEliminar2009/1/24 Maria Antonieta Cruz:
Caro Gonçalo
Obrigada pelo convite. Já li o primeiro contributo, tentei deixar um comentário mas não consegui. Confesso que o primeiro artigo me entristece. Por vários motivos tenho grande apego ao sistema democrático que vejo neste, como em muitos outros comentários e textos, ser levianamente acusado de todos os males. A democracia tem por base a verdade, a transparência, a igualdade, a liberdade, a solidariedade. Ela corresponde a um ideal extremamente generoso mas é servida por homens bons e maus.
Há uma ENORME diferença entre a ditadura e a democracia. Na primeira, a mentira, a corrupção e outros vícios dos lutadores pelo poder são como uma pedra pesada que se atira à água … ninguém mais a vê. Na segunda todos os defeitos, erros e incorrecções são como o azeite no mesmo líquido … ficam na superfície, à mercê de qualquer um a identificar e denunciar, contribuindo, assim para fortalecer a democracia, porque, parafraseando o Professor Magalhães Godinho, os erros da democracia corrigem-se com mais democracia. A democracia é MUITO exigente mas é a exigência que a purifica. É verdade que nem todos a servem bem. É verdade que enquanto houver lutas de poder haverá guerra. No futuro, para bem da humanidade, terão de vencer os “ingénuos” que acreditam na utopia. “Ingénuos” no sentido mais puro da palavra … eles são o cadinho da paz.
PS – Acho que é MUITO difícil ser político hoje … o verdadeiro poder está na comunicação social. Esta, MUITO FREQUENTEMENTE, utiliza este poder de forma despudorada :
a) Interpreta-nos os acontecimentos, por burrice, ignorância ou maldade, à sua maneira … por vezes os sumários das declarações que ouvimos revoltam e fazem-nos pensar na necessidade de avaliação contínua dos jornalistas … com critérios objectivos.
b) Esquecem, com grande frequência, o contraditório.
c) Repetem, até à exaustão, um pequeno deslize, uma gafe, uma menor escorregadela, um engano ou uma irreflexão.
d) Detentores de toda a pureza humana, avançam com críticas severas a falhas insignificantes.
e) Dão uma imagem, com o contributo MUITO activo de alguns políticos, de que tudo são interesses, manobras obscuras, comportamentos ilícitos.
f) Fragilizam a democracia … se tiverem êxito talvez percam a sua própria voz …
Era isto que eu queria deixar no novo espaço. Se tiver possibilidade passe isto para lá. Um abraço muito grande
Maria Antonieta Cruz